quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Tecer o novo ciclo ...


os três Ds de Abril
Peguemos nos três 'D' de Abril: Democracia, Desenvolvimento e Descolonização. Primeiro, é preciso reinventar a democracia. A que temos está esgotada. Percebemos, por exemplo, que a maioria da população portuguesa já não se revê nestes partidos políticos. Os partidos são absolutamente necessários, mas têm de se reinventar.

Há que construir uma democracia mais participativa, de maior proximidade. Os cidadãos estão hoje muito mais informados e não querem apenas votar de quatro em quatro anos e depois deixar que decidam por eles. A democracia de Abril tem de ser reinventada.
A ideia que podemos continuar com este modelo de desenvolvimento, com estes níveis de exploração dos recursos e de consumo de energia, é absurda. Precisamos de um desenvolvimento em paz com Terra, tema que a crise empurrou para segundo plano. Se continuarmos a viver como vivemos, o planeta não sobreviverá ao século XXI.

[Falta-nos] confiança e uma visão de futuro. E aqui entra o terceiro 'D', de Descolonização, que parece não fazer sentido hoje em dia, mas faz. Tem a ver com a nossa integração na União Europeia (UE). [É preciso repensá-la] Veja-se a questão dos fundos comunitários. É verdade que muitos foram mal gastos. E de quem é a 'culpa'? É da UE que nos deu dinheiro para muitas infra- estruturas, mas pouco nos deu para a Escola e para a Ciência, por exemplo. Mas também é nossa, porque permitimos que assim fosse. [Faltou-nos uma visão de futuro própria] E continua a faltar ao atual [anterior] governo. Foi isso, aliás, que levou a que se cortasse por igual no que estava bem e no que estava mal, no que era preciso continuar e no que era preciso acabar. Hoje, estamos mais longe de ter uma visão estratégica para Portugal do que há três anos. As grandes mudanças no mundo fizeram-se sempre para responder a crises e a dificuldades. O atual [anterior] governo limitou-se a cortar, sem estratégia e sem visão. Está tudo na mesma, mas mais pobre, mais frágil, mais desigual. Não fomos capazes de construir uma visão própria, de assumir opções deliberadas, e de as impor dentro e fora do pais, nomeadamente na Europa.
uma outra visão
Portugal precisa de uma outra visão sobre a democracia, o desenvolvimento e a integração na Europa e no mundo globalizado, e de unir dois pilares fundamentais: o conhecimento e o território, a ciência e a sociedade, as universidades e as empresas.

Um Presidente da República não pode falar apenas do lugar da economia e dos mercados, tem de trazer dentro de si as pessoas, a Língua, a Cultura, a Literatura, a Sophia, o Ramos Rosa, o Cesariny, tem de ser a voz dos mais desprotegidos, tem de ter confiança nos portugueses e construir com eles os caminhos do futuro.
António Nóvoa, Entrevista ao Jornal de Letras Artes e Ideias, 30 de abril de 2014

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