terça-feira, 12 de janeiro de 2016

NÓS DE NOVOA

NÓS

Num tempo em que novo e velho se misturam invertendo os rostos que invertem os fundos e ocultando de névoa consistente o que sejam — a relação entre a tecnologia e o capitalismo financista é esse contraste a nu —, clamar por um NÓS que não reivindica casta, nem pedigree publicitante, nem um NÓS de só para nós, nem um NÓS elitista nem demagógico-populista, um nós de amalgama, é ir contra várias ondas - a metáfora tem poder literal, falando da força de uma onda mediática, pois pode tudo em todo o terreno.

Mas de que NÓS se fala quando se fala de NÓS? Do nós do eu narciso e mitómano que se vê vários no mesmo fetichismo enamorado de si, não por certo, de um nós anónimo e de massa indiferenciada perdida num presente que oculta sempre o seu passado, não, desse não, não será.  Então de um nós que seja um nós clubista e localizado, orgulhoso da tribo fechada ou espaço restrito de reservado direito de admissão? Não, desse não. Talvez de um nós que seja “somos todos especiais primeiros” em inglês ritual-espectacular para português salivar! Com toda a certeza que não. Só se for finalmente de um nós que, plural majestático imponha a distancia da solenidade histórica onde impera o ruído, mas não, também não, esse já foi há muito para o caixote de lixo da dita e a Sampaio da Nóvoa falta a longa trunfa de Luís XIV mais os seus dourados, manto e sanefa de brocados em fundo.

Então qual será o nosso NÓS? Pode ser o NÓS de um eu rebelde que abre caminhos colectivos e nessa medida abre futuros, um futuro nosso, de NÓS, a esse NÓS não é estranha a política de alianças que gera, neste momento, na sociedade portuguesa, uma alternativa que não é a única que nos vendiam, mas é também o NÓS da equipa de competências que se assume projecto e nele um sujeito comum e plural, crítico, o NÓS de um colectivo consciente de que os meios não são os fins e que a táctica é uma estratégia com finalidades de emancipação, e pode ser por certo um NÓS identitário, que se chame Portugal e que tenha a consciência clara da sua inserção no mundo através do que nos gerou, a NÓS um NÓS que seja NOSSO, reconhecidamente, e que não é a economia abstracta - também essa, pelas especificidades territoriais e História gerou identidade, o que não é fazer proliferar Call Centers - mas a língua dessa economia a fecundá-la entre a babel das línguas e o inglês dominante. Essa não é só uma língua que ensina a pensar de um modo que também é nosso, na sintaxe basilar, mas também uma língua que transporta uma mundividência específica e um pulsar muito contraditório de que devemos tentar ter a consciência e que é o NOSSO. Um nosso que se abre ao NÓS que são OUTROS que, de certo modo, também somos. Um NÓS planetário que se contrapõe a uma globalização selvagem que faz da proliferação de conflitos, de uma guerra mundializada de guerras localizadas e de terrorismo global, a sua economia.

fernando mora ramos

1 comentário:

  1. Meus caros.
    Conheci agora este blog, através duma publicação no Facebook do Luis Novais Tito. Passarei a ser assíduo. Força!

    Rodrigo Henriques

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