quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Carta aberta aos choninhas


Portugal é habitat de uma espécie pródiga e que não corre risco de extinção: a dos derrotados à partida. "O Benfica vai jogar contra o Freiburgo-de-Baixo? Epá, não tem hipótese... Freiburgo-de-Baixo fica a 200 km do estádio do Bayern, e o Bayern joga muito." 

A estes profissionais da resignação (que às vezes parecem em maioria) urge lembrar: 
— Se em 408 AC os gregos fossem portugueses desses não teriam desafiado o império persa. 
— Se em 2004 DC os gregos fossem portugueses desses eram capazes de ter dito: "Bem, ganhámos faz duas semanas à selecção que tem o Figo, sem saber bem como, é impossível ganhar agora segunda vez, ainda para mais na final e eles jogam em casa." 
— Se em 1420 o infante D. Henrique fosse um português desses teria dito, no cabo de Superbock: "Ah, a água está fria, estas caravelas são muito mal amanhadas e o Marcelo está muito picado." (naquele tempo o costume era chamar Marcelo ao mar, por causa dum famoso fidalgo que um dia se atirara ao Tejo.) 
— Se os portugueses que fizeram a Restauração em 1640 fossem portugueses desses, teriam dito: "Epá, não vale a pena, os castelhanos são muito fortes, vê como eles esmagaram os catalães ainda este ano...."

Claro que é sempre mais confortável apostar no falhanço. Por isso mesmo os especuladores o fazem: porque é fácil e faz o derrotista parecer muito sábio e, quem sabe, até confundirem-no na rua com o Vasco Pulido Valente. Fraco prémio, se me permitem. Eu cá prefiro investir positivo. Por favor, não esqueçam os imortais versos de Pessoa que acabo de inventar: 
"Acreditar é preciso, choninhar não é preciso."

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